2005-03-23

livros

A leitura faz de todos nós emigrantes: leva-nos para fora de casa, mas, mais importante do que isso, faculta-nos casas para toda a parte. Hazel Rochman Pia Gosto de me relacionar com o livro, essas páginas recheadas de letras e de significados. Gosto não só me ligar afectivamente a ele como também do contacto físico com o livro. Não gosto quando tem um cheiro rançoso. Gosto de o ter entre os dedos. Não gosto quando é grosso e custa a segurá-lo. Gosto de lhe virar as páginas, uma a uma, e de o saborear devagar. Às vezes, a leitura é tão fascinante que devoro as páginas sem tomar consciência do sabor das folhas. Outras vezes, é tão aborrecida que os olhos deslizam entre as letras e o significado perde-se no ar. Gosto de livros heróicos que me apelam a grandes feitos. Não gosto de palavras que assustam ou amedrontam. Gosto de imagéticas coloridas e vivas. Não gosto de palavras que se arrastam pelo tédio. Gosto de poesia e de teatro. Não gosto de palavrões que ferem. Gosto de palavras saltitantes que me levam de viagem em viagem. Não gosto de palavras paradas que adormecem. Gosto dos meus livros, colocados em estantes, pousados em cima dos móveis, espalhados pela casa. Não gosto de emprestar livros e de não serem devolvidos. Gosto das palavras de toda a gente e de ninguém em especial. Leio livros porque as primeiras páginas agarram e me levam com elas. Os meus livros são meus amigos fieis, meus companheiros de viagem, meus contadores de histórias, meus esteticistas, meus criadores de Belo. E tu, que te dizem os teus livros?

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