2005-03-08

ser mulher

Gosto de ser mulher. Gosto de vestidos, de tecidos às florzinhas, de sapatinhos à boneca e de saias rodadas. Não gosto de ser discriminada. Gosto de ser muito íntimas das minhas amigas e de ir em grupo feminino para a casa de banho. Não gosto de ser apelidada de sexo fraco. Gosto de estar grávida, de aconchegar o meu filho ao meu peito e de ser ternurenta. Não gosto de ganhar menos que um homem. Gosto de cabelos compridos, de caracóis, de ganchos e de acessórios brilhantes e coloridos. Não gosto que me tratem como uma miudeca ignorante. Gosto de brincar às bonecas, de colorir desenhos, de moldar com plasticina e brincar às Barbies. Não gosto que me dêem ordens. Gosto de ser forte e frágil, criativa e inquieta, optimista e melancólica, de rir e logo chorar. Não gosto de ser apelidada de sensível com sentido pejorativo. Gosto de ser sonhadora e romântica, de tecer histórias com os fios da imaginação. Não gosto de burocracias. Gosto de ter ataques de riso, de ser infantil, de ficar séria e ser responsável. Não gosto que sejam sempre homens a ocupar lugares de chefia. Gosto de bordar, falar francês e ser boa cozinheira. Não gosto de ser um bom partido para dona de casa. Gosto de permanecer calada e observar o mundo que me rodeia. Não gosto que chamem a literatura feminina de cor-de-rosa. Gosto de aprender todos os dias, de ouvir e sentir. Não gosto que me escondam coisas porque posso ficar perturbada. Gosto de plantar sementinhas de afecto no coração de todos. Não gosto de ter o poder de vida ou de morte dos grandes ditadores deste mundo. Gosto de ser mulher e mesmo não mijando de pé, não fugindo às dores de parto, tendo de me depilar e aguentar o período e enxaquecas, de ser discriminada a todos os níveis... Não gostaria de ser homem por nada deste mundo!

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