considerandos sobre o amor XVII
Não sei o que é competir por amor. Simplesmente acho que não faz sentido. No amor não se deveria competir.
Às vezes, e ainda ontem ouvi, diz-se:
- Se gostas dele, vai à luta!
E eu pergunto:
- Ir à luta de quê? Lutar pelo amor de alguém?
O amor é, primeiro, uma emoção que surge na nossa vida, às vezes, de mansinho, outras vezes de forma repentina e vai-se sedimentando num sentimento forte ou não. Há amores que estão destinados a fracassar e há outros que poderão resistir às agruras da vida e às depressões pessoais.
O amor não é um livro com folhas brancas que vão sendo preenchidas e que se sucedem umas após às outras porque os amores das primeiras páginas nem sempre ficam para trás e os das últimas páginas nem sempre permanecem até ao final do livro.
O coração humano pode albergar todo o tipo de afectos, de vários tamanhos e de consistências diversas. É como se fosse um ficheiro gigantesco ilimitado, não reprimido por X gigas de armazenamento. Cada amor está na sua respectiva pasta, podendo-se fazer copy paste de determinados ficheiros de umas pastas para as outras. Outros ficam incólumes bem resguardados.
Ninguém pode dizer que fez delete a um afecto ou que o colocou na reciclagem para ser destruido. Os afectos não passam por nós como as nuvens no céu sem se fixarem no céu. O nosso eu é a construção de todas as pessoas que nos influenciaram, de todas as nossas aprendizagens e de todos os afectos que tocaram a nossa mente. Mesmo que um amor tenha deixado grandes mágoas e um certo desespero, houve sempre algo que nos fez florescer em algum momento anterior.
Ninguém também pode dizer que a sua vida gira à volta de um só afecto, como se todas as outras pastas pessoais não existissem. Não há nada de mais destructivo para o amor que torná-lo exclusivo, ficar dependente dele e afastar tudo o resto. O amor não pode ser aprisionado. Como podemos saber se o afecto de alguém é real, se está preso? A única forma de saber que alguém gosta de nós verdadeiramente é correr o risco de lhe dar a liberdade de partir para poder regressar.
Agora, lutar? Não compreendo. Não o devemos fazer porque os afectos não se forçam. Não devemos provar nada ao outro nem que somos melhores, nem que somos imprescindíveis, nem que somos a resposta às suas dúvidas. Se o outro não sabe se nos ama, não é lutando por ele que vai ter certezas. Se o outro está indeciso entre este ou outro afecto, não é competindo com um terceiro que vai tomar alguma atitude. E, finalmente, se deixou de amar, lutar já não adianta porque o amor não é nenhuma luz intermitente. Se for, será um candeeiro. A lâmpada fundiu e não há forma de se recompor. Das duas uma ou se substitui por outra lâmpada ou então ficará apagado para sempre.
O amor é imprescindível na nossa vida, sim. E faz sofrer muito quando se esgota, sim. E faz-nos renascer quando surge de novo, sim.
Haja abertura para permitir a entrada de afectos presentes e amores futuros...
(imagem de Dante Rossetti)
2 comentários:
Nada a acrescentar, concordo contigo;)
Que novos amores cheguem de presente neste Natal, wind e clitie... :)
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