2005-07-26

Carta a uma amiga tímida

Amiga, Sei que é difícil para ti dar o 1º passo, a vida não tem sido fácil para ti. Já confiaste nas pessoas e elas já te desiludiram muitas vezes, por isso te retrais e preferes calar em vez de ousar. Sei que é difícil acreditares que há alguém que te vai amar como tu és, assim às vezes um pouco atrofiada, porque se nos formos a comparar com os padrões de beleza e de personalidade dos nossos dias, ficamos todos a perder. Quem é que tem simultaneamente um rosto e corpo perfeitos aliados às melhores qualidades e aptidões? Sei que é difícil assumires-te como mulher sensual, dona da sua feminilidade, aceitares os teus desejos e lutar pelo homem que queres. Nem sempre os homens te trataram com o respeito que merecias. Sei que é difícil aceitares essas pequenas imperfeiçoes e pequenos defeitos, porque és uma perfeccionista e nunca estás satisfeita com o que és e o que fazes. Sei que é difícil saires da tua concha, onde vives recolhida e olhar nos olhos do mundo que te rodeia. Sempre que ligas a televisão, só se vêem desgraças e tens de encarar de frente a maldade e a crueldade humanas. Sei que é difícil seres apenas tu, esquecer passado e futuro, para aproveitar o presente porque tens sido pressionada para ser o modelo por excelência. Amiga, pára de te comparar com todas esses fantasmas de mulheres mais belas, mais sexys, mais empreendedoras, mais competitivas, mais perfeitas. Aceita-te como és, aprende a gostar de ti mesma para que os outros também aprendam a gostar de ti. Amiga, cá fora, também há coisas boas, que o digam as flores, a Natureza, as Artes e a própria Vida que teima em renascer todos os dias. Amiga, prometes sair da tua concha? Afinal, o mundo merece ver a pérola que tu és! Um beijinho da tua amoramiga

2005-07-05

Carta ao meu cão

kikazzzzz.jpgkikoni.jpg Kikoni, Sei que parece lamechas escrever-te uma carta. Algumas pessoas até poderão ficar chocadas de escrever-te primeiro que ao meu próprio filho. Mas, na verdade, não é uma questão de prioridades de afectos. Julgo que no meu coração e na minha mente, há espaço para todos eles, sejam eles relativos a pessoas, a animais ou até a objectos e a lugares. Escrevo-te esta carta por causa desta fotografia que te tirei no Sábado. Tens assim destas poses de abandono que me encantam. Talvez só os cães e as crianças se confiam dessa forma: inocentemente e em absoluto. Todos nós temos que aprender uns com os outros e gostava que me ensinasses a entregar-me assim ao sono. Tu bem sabes o quanto me custa adormecer e dormir serenamente. Tu bem sabes que a minha mente está em constante ebulição e que me distraio e disperso facilmente. Tu bem sabes que penso e faço milhentas coisas por dia e que alguma coisa há-de ser esquecida. Por isso, apesar de não seres um cão de raça nem de seres muito inteligente, estás vigilante à tua dona. Quando achas que estou demasiada ensimesmada, chamas-me e levas-me a passear. Quando me esqueço de te dar água, vens com a patita arranhar-me o braço. Quando me esqueço da chaleira ou do fogão ligados, vens chamar-me para desligar. És o meu companheiro de todas as horas, mesmo quando estou triste e não sei ser palhaço. Ficas deitado aos meus pés, mesmo nos dias em que acordo feia, despenteada e borbulhenta. Não foges de mim, se não tomar banho ou se estiver com o período. Permaneces comigo quando estou doente ou com dor de cabeça. Se andar danada com qualquer coisa, ficas debaixo da cadeira até que a tempestade passe e quando me sento no sofá, vens reclamar os mimos do dia que fazem falta. Vá! Não fiques vaidoso nem muito convencido porque vou continuar a chamar-te chato por andares sempre atrás de mim. Vou continuar a calcar-te sempre que te meteres no meu caminho sem avisar. Vou continuar a esquecer-me de te dar água quando andar ensimesmada. Vou continuar a resmungar por ter de sair ao frio e ao vento para me passeares. Vou continuar a ralhar-te quando vomitares em cima do único tapete da casa. Tudo isso vai continuar... e nesses dias, para me enternecer, vais fazer olhinhos de cão tristonho ou então vais deitar-te assim ao meu lado, no sofá, e vais conseguir desarmar-me porque não resisto a essa lealdade canina que tu me tens e a essa entrega total que só tu me sabes dar. Por isso, cão, aqui fica esta carta de agradecimento, por me aturares e por me aceitares como sou, assim, sem reservas, porque nem sempre os meus dias são de amorizade e tu sabe-lo melhor do que ninguém...