2005-09-26

história escrita a várias mãos I

O processo é simples. Começo eu uma história e quem quiser vem continuá-la, sempre a partir do último comentário. A mesma pessoa pode participar várias vezes, desde que não sejam duas vezes seguidas. Quando a história ficar parada, se quiserem acabo-a a eu. A. Langston Kit, o gato leitor História escrita a várias mãos por Fernando F, Gotinha, jacky, Jotakapa, Lady Xanax, Moi, Yardbird, ... Era uma vez, um gato chamado Kit que tinha a mania de ler, enquanto estava na casa de banho. Naquele dia estava deliciado a ler o último livro de Umberto Eco e estava tão absorto na leitura que não se apercebeu do passar do tempo. De facto, já nem necessitava de continuar sentado na sanita. Mas o livro prendia-o de tal forma até que o telefone começou a tocar. O Kit salta da sua sanita, deita o livro para o bidé e corre para o telefone, não fosse a sua querida adorada Felicia a convidá-lo para um passeio na biblioteca nacional. Ele atende o telefone e para sua surpresa era a Katty, sua vizinha do 2º andar, a quem a máquina de lavar roupa, terá parada a meio da lavagem, sem qualquer aparente razão para isso. Pedia então a Kit, que lá fosse a casa para lhe dar uma ajuda. Sendo Kit um gato muito cavalheiro, logo se prontificou a correr em auxílio da vizinha, esquecendo por completo, tanto a sua amiga Felícia, que poderia a todo momento tentar ligar-lhe, como do seu livro do Umberto Eco que tão deliciosamente estava a ler na casa de banho. Tal foi a pressa que não reparou que, na pata esquerda, ia agarrado um bocado de papel higiénico. Subiu as escadas a galope fazendo o papel esvoaçar pelos degraus. Ainda a resfolgar, bateu à porta que se abriu de imediato: a Katty aparecia-lhe deslumbrante, mal envolta no seu roupão de seda Chanel, com o logotipo bem à vista, tão à vista como uma boa parte da sua anatomia, lustrosa e cheirosa. Pelo aroma que se libertava pelas escadas, notava-se que tinha acabado de sair de um dos seus banhos de espuma. De queixo pelo peito, olhou-lhe o focinho e ela deitou-lhe um daqueles bater de pálpebras que deixam um macho à beira do colapso. Ficou extasiado, o pobre Kit. Com tal sublime imagem, exalando aromas que lhe faziam crispar os pelos do dorso,sendo um gato pacato e recatado, ficou petrificado não sabendo o que fazer. Nunca lhe tinha acontecido tal coisa!! Nesse preciso momento, o seu apurado ouvido de felino, ouviu o telefone de sua casa no andar de cima. Era a sua adorada Felícia, desta vez tinha a certeza, mas tornou a enganar-se. Era um senhor do Circulo de Leitores a dar-lhe os parabéns pelo prémio ganho por ter sido considerado o melhor cliente de 2004. Um cheque no valor de 2500€ vinha mesmo a calhar, pensou o Kit e começa a rir às gargalhadas. Entretanto, a Katty ouve a barulheira e junta-se à festa e começa logo a fazer-se ao bife. Viagem, compras... tudo o que uma gata poderia sonhar. O Kit eufórico sai a correr de casa para se ir encontrar com a sua Felícia para lhe contar a novidade e os seus planos para gastarem o dinheiro. Ao chegar perto da casa da sua amada vê algo que o deixa maluco, desnorteado e cego de ciúmes. Ficou estático. Seguidamente, sendo um gato acima de tudo austero e pouco dado a manifestações exuberantes, contou até 10 para se acalmar,pondo-se então a congeminar o que faria a seguir. Olhou para o seu relogato, e verificou que eram 17H00. Decidiu ir para casa, esperando que pelo caminho, a brisa agradável que soprava, lhe resfrecaria as ideias. De momento não lhe saía da cabeça, a imagem da sua querida Felícia, empoileirada à janela do r/c de sua casa, conversando animadamente com o Ric, um belo e esbelto gato persa. Sentia que algo de anormal se passava. Aquela não era por certo uma inocente conversa de amigos. Teria de haver algo mais. Subitamente veio-lhe à memoria a imagem da sua vizinha Katty. Apressou o passo. Enquanto caminhava, Kit pensava... Ric tinha a mania que sabia muito e que tudo (e todas) lhe iriam cair aos pés. Além disso, era dono de uma enorme biblioteca de deixar qualquer invejoso, Isso deixava Kit, o gato leitor, ainda mais triste, porque o atacava naquilo que ele mais tinha orgulho: a leitura. Sabia há muito tempo que Ric apaparicava discretamente Felícia com elogios, enquanto que ela tinha um comportamento esquisito quando se falava dele entre amigos ou de qualquer assunto que se relacionasse com a dita figura (ou figurão). Felícia já em outras alturas tinha deixado dúvidas a Kit, mas ele sempre assumiu que era fruto da sua imaginação felina e do medo que tinha de imaginar que a sua bela gata se pudesse apaixonar por outro. Colocava as patas no fogo por ela, sabia-a incapaz de o enganar. Mas com Ric era diferente, os olhares cruzados, os elogios, as conversas, o gosto repentino de cada um deles por tudo aquilo que o outro gostava. Decidiu que era tempo de mudar alguma coisa naquela vida de gato (ou de cão). Voltou a concentrar a mente em Katty que há muito se insinuava e o tratava como um verdadeiro felino gosta. Correu mais confiante para casa, ainda cogitando o assunto. Anoitecia. Com o cair da noite, veio tambem uma brisa fresca não muito agradável. Kit lembrou-se então de uma citação que teria lido não se recordava onde: "Se não podes ter a gata certa, diverte-te com a errada". Não se enquadrando esta citação nos seus princípios, decidiu ainda assim ir ter com a Katty. Começava a levantar-se um vento frio, próprio do anoitecer no início da Primavera. Seria óptimo para estar aconchegado em casa, na companhia e, algo mais, da Katty. Chegou ao seu prédio. Entrou, e foi direito à porta de Katty. Surpreendentemente, esta estava com o seu deslumbrante Channel, à sua espera. Ronronava maviosamente. Kit não perdeu tempo...

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