Desejo I
Desejo-a e há-de ser minha. Sempre tive tudo o que desejei. Nunca tive de me esforçar muito para conseguir o que quero, talvez por estratégias bem planeadas, talvez por sorte apenas.
Desejo-a e há-de ser minha. Ela tem algo de diferente das outras, não sei bem dizer o quê. Ela nem sequer é muito bonita, mas consegue surpreender-me, o que já não acontece há muito. Ela paira sobre o mundo, inalcançável, absorta nas suas paixões e fascínios, que eu gostaria de agarrar. Gostava prender a sua atenção, nem que seja por momentos. Sim, momentos, porque não sou homem de me prender.
Desejo-a e há-de ser minha. Agora que ela finalmente olhou para mim, desejo-a ainda mais. Ela entontece-me com o seu entusiasmo e assusta-me ao mesmo tempo. Quero-a e não a quero. Quero possui-la por momentos, mas não quero amá-la.
Desejo-a e há-de ser minha. Se fosse só uma questão de sexo, já teria acontecido. Sei como seduzir uma mulher. Nunca nenhuma me resistiu. Mas não é disso que se trata. Quero fazer ceder essa timidez corporal latente e levá-la ao êxtase total. Quero tocá-la bem no fundo e fazê-la totalmente minha. Quero invadir o seu jardim secreto e perfumar-me com as flores do seu desejo.
Desejo-a e há-de ser minha. Desejo transformar as suas palavras em gemidos de prazer, quero incendiar a sua pele com a minha língua no seu pescoço, no seu peito, na parte tenra das suas coxas. Não desejo só o seu corpo, desejo chegar ao mais íntimo nela, fazê-la vaguear pela imensidão do seu prazer, onde mais ninguém esteve antes. Quero fazê-la minha, fazê-la ceder as últimas barreiras, entrar nas últimas fronteiras proibidas. Não quero só um corpo em êxtase, quero-a toda, totalmente minha.
Desejo-a e não a desejo. Quero penetrar nela, ver o fogo do arrebatamento no seu olhar, fazê-la chorar de prazer, quero fundir-me nela, mas não a quero. Quero tudo, mas não estou disposto a dar tudo porque não sou homem de me prender. Certas noites, em que a desejo mais que posso, telefono-lhe, embalo-a com palavras sentidas e abandono-me à sua voz que, emocionada, me canta poemas de amor. Sinto o sangue a correr-me nas veias. O meu pénis endurece com a doçura da sua voz. Já não aguento mais. Desligo com a desculpa que já é tarde. Masturbo-me finalmente com a imagem dela nos olhos e a sua voz a acariciar-me. Por hoje, saciei o desejo.
Desejo-a e há de ser minha ou talvez não...
(24.04.2005)
Escrito no masculino, depois dum desafio do NikonMan em Abril deste ano, a propósito dum post do Yardbird...
5 comentários:
Muito bem escrito. Colocaste-te bem na "pele" de um homem.
De facto 5 estrelas Jacky.
Beijos
Fernando F
Gostei, muito :)
Senti-me na pele "dela" vá-se lá saber porquê...
Tentei wind mas ainda assim não está perfeito!
Obrigada Fernando F :)
Fico contente Atlantys :)
Está fantástico, Jacky, parabéns!!!
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