Paixão
Paul Curtis
Ela era uma freak control. Gostava de acordar sempre à mesma hora para que a sucessão de hábitos não se perdesse logo pela manhã. Atrás da porta do guarda-vestidos, tinha uma lista com a roupa que haveria de vestir naquele mês, com as saias a combinarem com as camisas, as luvas com os cachecóis, os cintos com as carteiras. Metia gasolina sempre às 3ºs e ficava com o dia estragado se, por algum contra-tempo, tivesse de pôr antes.
A melhor maneira de a enfurecer era fazer-lhe uma surpresa: aparecer-lhe em casa sem estar a contar, oferecer-lhe um ramo de flores sem ser em datas previamente assinaladas. Via sempre os mesmos programas na televisão e ouvia sempre os mesmos discos de vinil no seu gira-discos porque digeria mal as mudanças tecnológicas. Tinha sempre os mesmos amigos de há anos e há muito que desistira de amar.
Até ao dia em que entrou a Paixão na sua vida...
(Alguém quer continuar? Também se aceitam fins alternativos...)
4 comentários:
e ficou perplexa. Como era possível apaixonar-se? Ia contra tudo o que acreditava.
Mas ele estava a conseguir dar-lhe a volta com muita calma. Chamava-se João, era estudante de Belas Artes e muito carinhoso...
Como qualquer aspirante a artista que se preze, não tinha horários. Mas ela nem dava conta das horas pelo relógio de pulso nem pelos alarmes do telemóvel. Os seus ouvidos pareciam ter instalado um sistema de insonorização dos ruídos de fundo e apenas captavam as palavras dele.
Até ao dia em que entrou a Paixão na sua vida "...foi mesmo o princípio do seu fim.Começou a ter colite;tudo lhe fazia mal,quer o visse quer não;quer ele se enebriasse com ela noites a fio ou faltasse aos compromissos...
Quando ia a uma loja as mãos "urticavam",mesmo que fosse para dar ao amado um presente....
Mas qual presente!!!!Deixou de ter presente passado e futuro....foi de tal modo a desorganização do seu querido sistema de vida,a alteração dos padrões que lhe serviram de rumo durante 30 anos....que de psicossomática,stressada ou possessa num ano foi arrebatada deste planeta por uma vil doença...sim um cancer...
...È por isso que eu não me apaixono.....
Também sou uma freack control...
Ser freak control não é nenhum horror. É uma neurose como outra qualquer...
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