Confidências nocturnas
Nasci no Inverno, quase à meia-noite, e assim fiquei tecida de noite. Gosto de estar acordada até tarde, de conversar no msn com quem passa e se demora comigo. Depois, ando toda a manhã podre de sono porque me custa imenso levantar cedo e nunca descanso o suficiente...
Hoje, aconteceu-me algo estranho. Apareceu-me um dos meus amigos londrinos e convocou uma conversa via webcam. Não tendo uma, fiquei a vê-lo. Estava com muito mau aspecto: olhos injectados, em tronco nu, impensável para o gentleman que eu conheci lá. Estava muito bêbado.
Perguntei-lhe porque bebia se o fazia sentir mal. Disse-me que se sentia só. Respondi-lhe o que sempre digo nessas ocasiões, que a solidão existe na nossa cabeça, que o sentir-se só é um estado de espírito, que ele não devia sentir-se só porque há imensa gente que o ama e que gosta dele...
Quando me respondeu, entendi. Está apaixonado e acha que não é retribuido. É estranha essa sensação de achar ou saber que quem amamos, não nos ama de volta e a consequente sensação de vazio, de despovoamento do planeta. Falta aquela pessoa e é como se resumisse o mundo inteiro. Que poder tem então essa pessoa sobre nós sem o saber!
Ninguém deveria se apoderar de nós assim. Que se passa então? Talvez um reviver de abandonos passados, de rejeições anteriores, mágoas que nunca sararam. O que devia ser apenas uma chuvada com trovoada, seguida de bonança, transforma-se numa imensa tempestade que tudo assola, devastadora do próprio ser...
Não deveria ser assim! Não pode ser assim! É preciso retroceder e lamber todas essas feridas por cicatrizar. Fechá-las uma por uma. Aprender a conviver com elas e depois, sim, lidar com a rejeição do presente e dar-lhe o valor que ela tem, não multiplicada pelo passado.
Foi-se deitar. Fiquei a pensar nele e no seu desgosto amoroso. Espero que amanhã acorde apenas com dor de cabeça e não com dor de alma. E se ele não se lembrar que falou comigo a cair de bêbado, talvez seja melhor assim...
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