silêncio II
O silêncio instalou-se entre nós, os dois, cada um sentado na ponta do sofá. É um silêncio feito tijolo, constructor de paredes. Cada dia que passa vai crescendo um pouco mais e já quase nem consigo ver-te do outro lado, quando espreito por cima do muro.
As palavras cansam-se de pular por cima do muro ou de trepar sem apoios. Não nasceram vocacionadas para a escalada. Talvez devêssemos construir um escorrega de frases que pudessem circular de lado a lado.
Enviei-te alguns aviões de papel, recheados de palavras. Não os deves ter lido, se calhar aterraram no chão ou simplesmente se esborracharam contra a parede.
Remeteste-te ao silêncio. Pensas que é a melhor táctica e a melhor solução assim como um lago estagnado que reflecte céu e terra, mas um lago é feito de várias camadas, algumas de lôdo, e outras de cores escuras onde circulam seres estranhos.
Há alturas em que a teimosia em derrubar muros se transforma em obstinação. Atiro pedras ao lago e as águas turvam-se. Se me atiro à água para derrubar o silêncio, afogar-me-ei?
O silêncio devolveu-me um avião de papel, devolveu-me as minhas palavras em direcção à janela. Acho que vou ter de reaprender a voar...
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