considerandos sobre o amor XI
Hippolyte Flandrin
Qu Lei
Sedução
Parece fácil seduzir no século XXI. As pessoas estão à mão sob todos os aspectos i.e. expõem-se mais (a vergonha e o pudor é para os cotas!) tanto a nível físico como a nível pessoal.
É fácil conhecer-se gente nos bares, no café, no trabalho, na rua e ultimamente na internet. Ele é chat(o)s, ele é eu procuro-te (icq), ele é mensageiros (msn, multiply, h5), ele é amigos dos amigos dos amigos às toneladas (orkut) e sei lá que mais.
O telemóvel permite-nos estar-se ligado ao mundo 24h/24h, em qualquer lado, a qualquer hora, com quem quer que seja (que esteja fisicamente connosco e do outro lado do fio).
Estamos aqui e em todo o lado. Estamos sozinhos e com toda a gente. Estamos íntimos e sociais.
E...
Nunca as pessoas se sentiram tão sozinhas, tão desconsoladas, tão irritadiças, tão agressivas, tão desamparadas e tão depressivas, porque tanta comunicação e tanta gente nova não trouxe mais relações estáveis, nem mais amigos verdadeiros e de confiança. Os amigos vêm e vão. Os amores são efémeros. Os fios nunca chegam a dar laços e muito menos nós.
As pessoas sentem, então, necessidade de arranjar alguém à força, uma alma gémea que as tire dessa teia de momentos vazios. Mas as amizades e os amores não se forçam. Ou há empatia e a amizade nasce ou o elo se esfuma rapidamente. Ou há sintonia e desejo e o amor floresce ou o amor morre na nascente.
Não nos devemos impor a ninguém. Não devemos dizer: - Cheguei e preciso já de ti! É preciso criar os fios invisíveis que nos ligam ao outro. Se for ao amigo, devemos criar um tecido de afinidades. Se for a uma paixão nascente, devemos criar o desejo do reencontro.
Não devemos dar-nos por inteiro logo nas primeiras abordagens. Lagos obscuros não incitam ao banho, mas transparência a mais também faz perder todo o mistério. Não devemos esperar muito do outro e tentar aceitá-lo como é, assim evitaremos as decepções de altas expectativas.
Seduzir é como ter uma cana de pesca e puxar alguém para nós com um fio. Se o fio for fraco, a sedução será desfeita. Se for forte demais, iremos aprisionar o outro nas malhas da posse. O fio deve ser suficientemente leve e forte para que o outro venha ter connosco sem termos de o puxar.
Sedução é uma coisa cada vez mais esquecida, disse o eco no país duma raposa e dum principezinho...
8 comentários:
também tens hoje mais facilidade de construir pontes, não é fácil criar laços, temem-se os rituais, e a profusão de falsas rosas confudem os principezinhos em projecto.
Ainda assim a lição do pequeno principe ficou e com mais botões o essencial continua a ser invísivel para os olhos.
sente-se
;)
Bingo. E mais não digo, pois acho que percebeste.
:)
Perante o que escreveste, só te digo: concordo plenamente e assino por baixo!
É bem verdade, apesar de haver mais oportunidades, continua a ser necessário ter o trabalho de construir a relação, e isso não é fácil e demora tempo. E parece que muitos acham que não vale a pena.
Mas mesmo assim essas oportunidades podem ajudar a criar laços que de outro modo não seriam possíveis. É, como muitas outras coisas, algo que pode ser bem ou mal utilizado.
Há a questão do tempo, não é? Na moderna vida atarefada, sempre ligados e sem querermos perder nada, esquecemos que é preciso perder tempo para ganharmos amigos e amores :)
Pelas bandas de cá, a "Sedução" vem embrulhada num papel alumínio azul, dentro de uma caixa e é redonda.
Mas eu prefiro o "Serenata". O recheio é mais cremoso! :)
Ouch, na mouche... :)
é...às vezes penso que já não sei "jogar" os jogos da sedução e que tudo é:queres ou não?!Bjs :-)
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